A lógica colonial do espaço (sideral)

Pedro Silva
16 min readJul 2, 2021

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Por: Deondre Smiles

Nesse ensaio, eu coloco a lógica do colonialismo e a lógica do domínio da exploração espacial tanto sobre o espaço na Terra como sobre o espaço interplanetário às custas de povos indígenas. Eu, então, olho para concepções indígenas de espaço como forma de frustrar essa lógica colonial.

“Ao reafirmar nossa herança como uma nação livre, nós devemos sempre nos lembrar que a América sempre foi uma nação de fronteira. Agora, nós devemos abraçar o Destino Manifesto da América nas estrelas… A nação americana foi conquistada em uma vasta fronteira pelos mais fortes e mais determinados homens e mulheres que já caminharam sobre a face da terra… Nossos ancestrais desbravaram o desconhecido, domaram espaços selvagens, colonizou o Oeste selvagem… Essa é a nossa herança gloriosa e magnífica. Nós somos americanos. Nos somos pioneiros. Nós somos desbravadores. Nós colonizamos o Novo Mundo. Nós construímos o mundo moderno”

-Presidente Donald J. Trump, Discurso State of the Union de 2020

Para a maior parte dos acadêmicos, e certamente para a maior parte dos povos indígenas na Ilha da Tartaruga*, não é segredo que o país que chamamos de Estados Unidos da América foi construído sobre a brutal subjugação dos povos indígenas e de suas terras. Alimentado pelos mitos colonizadores de terra nullius (terra de ninguém) e Destino Manifesto, o estado colonial americano procedeu com um projeto de genocídio físico e cultural, com efeitos duradouros até o dia de hoje. O mito do assentamento permeia a cultura americana. Palavras como “pioneiro”, “o Oeste” e “Destino Manifesto” prendem a imaginação a respeito do crescimento desse país na etapa inicial de sua história. América surgiu de um “sertão”** vasto e aberto. Para os povos indígenas, claro, a história é diferente — essas terras tinham culturas complexas e entidades políticas desde muito antes da colonização. Palavras como “pioneiro” e “Destino Manifesto” têm profundo significado para nos também, uma vez que são indicativas do dano infligido sobre nossas culturas e nações e cujos efeitos demandam muito trabalho para serem desfeitos.

O discurso de Trump nos traz insights importantes sobre a continuação da lógica colonialista e suas trajetórias futuras. A invocação que Trump faz de ideias como a “fronteira” ou de “domar o sertão” atrai a atenção para a violência que acompanhou a construção do estado americano. Pesquisadores como Greg Grandin (2019) defendem que a fronteira é parte do que os Estados Unidos são — seja o “Oeste Selvagem” ou a fronteira EUA-México, os EUA estão sempre lutando com uma fronteira que deve ser definida. A linguagem que cerca a fronteira é preocupante porque perpetua a racionalização da existência do estado colonial estadunidense — poder fazer melhor uso da terra do que os povos nativos poderiam fazer. Afinal, eles viviam em uma área selvagem.

Esse mito nos conta o que sabemos sobre a construção do mundo moderno ter se dado pelo trabalho duro de colonizadores europeus; povos indígenas não tinham nada a oferecer nem como contribuir. Para alguém como Trump, cujas desconfianças e hostilidades contra povos nativos são documentadas historicamente, esse mito cai bem com sua narrativa presidencial — ele está construindo uma “nova” América, que vai voltar ao seu lugar de poder e influência.

O fato de que linguagem semelhante tem sido usada para narrar a potencial projeção de poder americano para o espaço é uma expectativa razoável, dado o potencial econômico e militar que vem de tal medida. O espaço representa um novo “desconhecido” a ser conquistado e curvado à vontade americana. A conquista interplanetária, no entanto, não existe apenas no espaço sideral. Eu quero situar os legados coloniais e a violência associada com o desejo de explorar o espaço, traçando as formas pelas quais elas são perpetuadas e reificadas por meio de seus engajamentos destrutivos com povos indígenas. Eu argumento que um empreendimento científico como a exploração espacial não existe no vácuo, mas está baseada em um colonialismo que se alimenta por meio da priorização da “ciência” sobre epistemologias indígenas.

Eu começo explorando as formas como a exploração espacial pelo Estado colonial americano se situa dentro de questões de hegemonia, imperialismo e terra nullius, incluindo uma breve sinopse da controvérsia sobre a construção do Telescópio de 30 metros em Mauna Kea. Eu concluo explorando o engajamento indígena com o “espaço”, tanto em sua forma terrena como em sua forma extraterrestre, e suas possíveis implicações para as formas como pensamos o nosso engajamento com o espaço no momento em que o estado colonial americano começou a olhar novamente para o céu. Esse trabalho se situa em um corpo de esforços acadêmicos e jornalísticos (Haskins, 2020; Koren, 2020) que demandam que o Estado colonial americano realize um exercício de reflexão a respeito dos motivos que o levam a se engajar com o espaço sideral, bem como a quem esse processo beneficia ou prejudica aqui na Terra.

Colonialismo e “espaço”

Para começar, é necessária uma breve exploração a respeito do colonialismo e seu engajamento com o “espaço” aqui na terra.

Colonialismo de povoamento é comumente entendido como uma forma de colonialismo baseada na presença permanente de colonos na terra. Ela se distingue de outras formas de colonialismo baseados na extração de recursos (Wolfe, 2006; Veracini, 2013). Isso significa que a colônia de povoamento está ligada intimamente com o espaço na qual ela existe — não pode se sustentar sem o controle colonizador sobre a terra e o espaço.

Essa presença permanente na terra de “colonos” geralmente se dá às custas dos povos indígenas de determinado espaço ou território. Reiterando: o controle sobre o espaço é primordial. Nas palavras de Wolfe “Terra é vida — ou pelo menos necessária para a vida. Assim, disputas pela terra podem ser — e de fato, frequentemente são — disputas pela vida” (2006, 387). Sem terra, o estado colonizador “morre”; de forma semelhante, a privação de terra das populações indígenas significa, para o colonizador, que a indigenidade morre (Povinelli, 2002; Wolfe, 2006).

As metas finais do colonialismo são, então, ocupar e refazer o espaço. Como Wolfe (2006) descreve, o estado colonizador busca fazer uso da terra e de seus recursos para continuar o avanço; seja por meio da agricultura, da residência, mineração ou qualquer outra atividade que a lógica colonial considere necessária para sua sobrevivência. Essas atividades estão ligadas a uma lógica racista e arrogante de que apenas os colonos tem a habilidade de fazer uso correto da terra e do espaço (Wolfe, 2006). Isso se encontra com a perspectica de paisagens anteriores à chegada europeia como terra nullius, terra vazia que não era propriedade de ninguém na concepção europeia/ocidental de posse e propriedade da terra (Wolfe, 1994).

Por esse objetivo espacial, existe uma ansiedade inerente em colônias de povoamento sobre o espaço, sobre como ele pode ser ocupado e reescrito para remover a presença indígena. Em colônias Anglo-saxãs, isso em geral se dá por meio das lentes da conservação. Pesquisadores como Banivanua Mar (2010), Lannoy (2012), Wright (2014) e Tristan Ahtone (2019) têm trabalhado com os modos pelos quais a reinscrição do espaço pelos colonizadores é extremamente danosa aos povos indígenas pela perspectiva da “conservação”.

A expropriação de espaço indígena em favor de usos coloniais, no entanto, também está ligada a algumas das forças mais destrutivas do nosso tempo. A terra aborígene no interior australiano, por exemplo, era vista como “vazia” e foi transformada em campo de testes de armamentos. Nela, as forças armadas britânicas testaram armas nucleares na década de 1950, o que levou efeitos negativos para a saúde das comunidades aborígenes que viviam a sotavento dos locais de teste (Vincent, 2010). Nações indígenas dos EUA também têm dificuldades lidando com o dano ambiental relacionado com a exploração militar-industrial.

Foguete Saturn V. (Foto: NASA)

Mas de que forma isso aparece em relação ao espaço sideral? Para compreender a potencial lógica colonial da exploração espacial, nós temos que voltar e explorar a forma pela qual ela se conectou intimamente com questões de hegemonia estatal e geopolítica na Guerra Fria. Programas espaciais dos EUA e da URSS nasceram parcialmente da utilidade militar e do valor de propaganda — a abilidade de lançar uma ogiva nuclear através de grandes distâncias para atacar o inimigo com um ICBM e o respeito geopolítico subsequente a essa capacidade tinham forte apelo junto às superpotências. Quando os soviéticos tomaram a dianteira na corrida espacial com as sondas Sputnik e Luna, os EUA derramaram rios de dinheiro e recursos na busca pelo emparelhamento (Werth, 2004).

O medo de ficar militarmente atrás dos soviéticos e a percepção de uma perda de prestígio perante a opinião mundial estimulou os EUA a seguir o caminho que levou até à aterrisagem na Lua da Apollo no final dos anos 1960 e no começo dos anos 70 (Werth, 2004; Cornish, 2019). Eu argumento que isso se encaixa perfeitamente no mito de origem colonial Americano referenciado por Trump — depois de “conquistar” o continente, porque os EUA parariam no domínio do “espaço” apenas na Terra?

Voltando a Grandin (2019), o espaço representa uma nova fronteira a ser conquistada e conhecida pelo estado colonial, seja explicitamente pela possibilidade de colonização no futuro, seja pela preservação de sua extensão espacial na Terra. Entretanto, autores como Alan Marshall (1995) advertem que novas lógicas de exploração espacial, como a de extração potencial de recursos, se conectam com lógicas militares existentes de forma a criar novos jeitos de pensar a “abertura” do espaço sideral à lógica imperial, a partir do que Marshall chama de res nullius (1995:51)

Telescópios em Mauna Kea. (Foto: Universidade de Hawaii-Hilo)

Mas não podemos esquecer como o conceito de terra nullius e a exploração das estrelas tem efeitos reais sobre paisagens indígenas aqui na Terra. Nós também não podemos esquecer como as formas de exploração espacial podem não extar explicitamente vinculadas a meios militares. Deixar esses elementos de lado nos priva de uma outra lente pela qual ver as tensões entre a perspectiva colonial e indígena sobre o espaço e suas utilidades. De fato, mesmo a recolocação de espaço indígena para a exploração colonial “pacífica” do espaço tem consequências concretas para a soberania indígena e seus espaços.

Talvez os exemplos mais notável das fraturas entre a exploração espacial do colonizador e os povos indígenas seja a controvérsia corrente sobre a construção do Telescópio de Trinta Metros em Mauna Kea, na ilha do Havaí. Embora uma descrição extremamente detalhada do processo de construção do TTM e da oposição a ele por parte dos nativos havaianos e seus aliados esteja fora do escopo desse ensaio, a controvérsia em volta do TTM é um excelente exemplo da lógica desenvolvida com relação ao “espaço” tanto em contextos terráqueos como em contextos além-Terra pelo Estado colonial, bem como da violência que essa lógica impõe a espaços indígenas como Mauna Kea, que são particularmente afetados pela construção de telescópios e observatórios (Witze, 2020)

Astrônomos como Chanda Prescod-Weinstein, Lucianne Walkowicz e outros tem tomado medidas decisivas contra a ideia de que o avanço científico do colonizador por meio da exploração espacial deveria ser priorizado em face da soberania indígena no espaço terrestre. Prescod-Weinstein e Walkowicz, junto com Sarah Tuttle, Brian Nord e Hilding Neilson (2020) deixam claro que os empreendimentos científicos tais como a construção do TTM são apenas novas notas de rodapé em uma longa história de desrespeito colonial aos povos indígenas e seus espaços em nome da ciência — e que a astronomia não é inocence nesse processo. De fato, pesquisadores nativos havaianos como Iokepa Casumbal-Salazar atacam o coração da suposta neutralidade de ciências como a astronomia:

Um cientista me disse que a astronomia é uma “ciência benigna” porque se baseia na observação e que é universalmente benéfica porque oferece “conhecimento humano básico” que todos deveriam saber, “que nem anatomia humana”. Tal declaração sublinha o viés cultural das noções convencionais do que constitui o “humano” e “conhecimento”. Na ausência de uma reflexão crítica sobre esse etnocentrismo, a reivindicação tácita à verdade universal reproduz a supremacia cultural da ciência ocidental como auto evidente. Aqui, a necessidade de astrônomos de pontos culminantes em lugares remotos supera as necessidades de comunidades indígenas em cujos territórios ancestrais esses observatórios são construídos (2017:8)

Casumbal-Salazar e outros que escrevem sobre o TTM e a violência infligida sobre os nativos havaianos (tais como ações policiais destinadas a deslocar bloqueios que impediam a construção) bem como sobre a potencial violência futura relacionada a esses empreendimentos habilmente disseram que quando se trata da violação do espaço indígena por esforços científicos coloniais ligados à exploração espacial, não existe neutralidade. Expropriação e violência são expropriação e violência, não importa o potencial “bem para a humanidade” que possa advir de tais coisas.

Essas contestações sobre o espaço sideral e o engajamento ético com espaços previamente desconhecidos vão continuar a acontecer. O espaço sideral não é a primeira “fronteira final” (desculpa, Cap. Kirk) que foi discutida na lógica colonial dos espaços acadêmicos. Em termos de colonização, pesquisadores têm escrito sobre como a Antártica foi inicialmente concebida como a colônia “perfeita” para o povoamento — terra que poderia ser tomada sem a confusão de expulsar as populações indígenas de lá (ver Howkins, 2010). É claro que agora sabemos que o engajamento com a Antártica deveria ser restrito por preocupações ambientais — quem diria que tais preocupações terão atenção em espaços “despovoados”? O que pode ser feito para lutar contra essa lógica colonial?

Engajamentos indígenas com o “espaço”

“Rio das Almas” de Carl Gawboy (publicado em Indian Country Today, 2/4/2016)

Quero agora direcionar nossa atenção para as possibilidades existentes com relação aos engajamentos indígenas com o espaço sideral. Aliás, a tarefa não poderia ser mais urgente — estamos agora no ponto em que, após gerações de construção do mito de que os EUA foram construídos do nada, nós estamos prontos para retomar o projeto de expansão do poder econômica e militar estadunidense no espaço. Para ser justo, há uma série de avanços científicos que podem ser feitos por meio de um foco renovado na exploração espacial. A história, no entanto, nos mostra que a exploração espacial sempre esteve ligada à hegemonia militar e não há nada no temperamento de Trump ou em sua atitude em relação ao reengajamento com o espaço que sugere que esse impulso será diferente. Um diálogo deve ser sustentado — essa exploração será benéfica para todos os americanos?

Uma potencial abertura para o envolvimento indígena vem, é claro, pelo envolvimento ativo de povos e perspectivas indígenas na exploração espacial. Esse envolvimento pode ser possível por meio de uma perspectiva decolonial sobre o espaço sideral, por exemplo. Astrônomos como Prescod-Weinstein e Walkowicz já falaram sobre a necessidade de evitar a réplica de estruturas coloniais de ocupação e uso do espaço quando se trata da exploração de lugares como Marte, por exemplo (Mandelbaum, 2018). (SEP)

A emergência da lógica de extração de recursos em corpos celestes levou a engajamentos de outros acadêmicos, como Alice Gorman, com temas como a agência e personalidade da Lua. Colaborações entre povos indígenas e agências como a NASA ajudam a estabelecer uma perspectiva indígena para a exploração espacial e para as informações adiquiridas por meio dela, com consequências tanto para o espaço como para uma Terra que ora lida com uma crise climática (Bean, 2018; Bartels, 2019)

Outra entrada potencial para o engajamento com epistemologias e metodologias indígenas relacionadas com o espaço vem por meio do engajamento com pensadores indígenas que já estão profundamente imersos em explorações do “espaço” indígena aqui na Terra — trabalhos recentes de pensadores como Waziyatawin (2008) Leanne Betasamosake Simpson (2017), Natchee Blu Barnd (2018) e outros fornecem pontos de vista únicos sobre as formas como os povos indígenas fazem e refazem o espaço. Isso talvez possa fornecer um outro esquema para o engajamento com o espaço além-Terra. E esse é só o trabalho existente dentro dos cânones acadêmicos. Povos indígenas sempre estiveram engajados com mundos além da Terra de formas que, frequentemente, eram contrárias às convenções coloniais de exploração espacial (Young, 1987). Em um exemplo, quando perguntados sobre a chegada do homem à Lua, muitos Inuítes diziam “não sabíamos que essa era a primeira vez que vocês brancos foram à Lua. Nossos xamãs têm ido lá po anos. Eles vão o tempo todo para a Lua… Nós vamos visitar a lua e o povo da lua. A questão não é se vamos visitar nossos parentes, mas como nós tratamos a eles e à sua terra natal quando vamos (Young, 1987:272)”.

Em outro exemplo, olhando para meu próprio povo, os Ojibwe, temos conexões de longo prazo com as estrelas que influenciam a contação de histórias, governança e religião (Chin, 2003). Esse engajamento continua até o tempo presente e aponta para um futuro promissor. Uma nova geração de artistas, cinegrafistas e escritores indígenas estão começando a trabalhos que colocam o indivíduo indígena em narrativas de viagem espacial e futuridade, desestabilizando noções coloniais existentes de como nosso futuro no espaço pode parecer. Como Leo Cornum (2015) escreve, “O espaço sideral, talvez por seu apelo ao nosso senso de possibilidades infinitas, se tornou um locus imaginativo para prever como negros, indígenas e outras populações oprimidas podem se relacionar entre si por fora e apesar do olhar colonial.”

(Crédito: Indigenous Education Institute)

Os exemplos anteriores servem como um lembrete de que os fundamentos históricos do nosso grande mito nacional são construídos sobre bases intelectuais frágeis — e precisamos ser honestos a respeito diso. Os EUA não surgiram do nada; o país veio de um processo de ocupação e controle brutal de terras naticas. Apesar dos esforços do Estado colonial, as populações nativas ainda estão aqui, ainda existimos e fazem contribuições vitais para comunidades tribais e para a ciência. Não podemos esperar que Trump vire suas costas para o mito nacional que fez dos Estados Unidos o que ele é — na cabeça dele, essa é a gloriosa história daquilo que fez a América grande no passado. E não deveria surpreender ninguém que Trump e outros desejem estender essa história para além da Terra. Mesmo quando os dias de Trump na Casa Branca tiverem terminado, a lógica colonial que embasa nosso engajamento com a terra na Terra ainda vai pairar sobre as formas como podemos potencialmente pensar o espaço além-Terra. Masa para aqueles que não trabalham com geografias indígenas nem com estudos indígenas, é mais vital ainda que atentemos aos chamados de pensadores indígenas dentro e fora de estruturas acadêmicas formais, que as histórias dessas populações sejam validadas e que o mito colonial americano seja desconstruído. Esses são passos vitais no estabelecimento de novas formas de olhar as estrelas, especialmente no momento crucial em que o Estado colonial volta seu olhar para os céus.

[i] Embora o foco desse ensaio seja o contexto americano, recomendo a leitura do texto de Alice Gorman “The cultural landscape of interplanetary space” para exemplos fora dos Estados Unidos como o campo de lançamento britânico/australiano de Woomera e seus efeitos sobre populações aborígenes

[ii] Também recomento a leitura dos seguintes artigos a respeito da construção do Telescópio de Trinta Metros em Mauna Kea:

The recent forum on Mauna Kea and TMT by Radical History Review’s ‘The Abusable Past’ section.

Cordova, Anna. 2016. “Scientific Colonialism in Indigenous Spaces: A Case Study in Hawaii.” PhD diss., University of Colorado Colorado Springs. Kraemer Family Library.

Hobart, Hi’Ilei Julia. 2019. “At Home on the Mauna: Ecological Violence and Fantasies of Terra Nullius on Maunakea’s Summit.” Native American and Indigenous Studies (6)2: 30–50. https://doi.org/10.5749/natiindistudj.6.2.0030

Maile, David Uahikeaikalei‘ohu. 2016 “On the Violence of the Thirty Meter Telescope and the Dakota Access Pipeline.”

Maile, David Uahikeaikaeli’ohu. 2018. “Precarious Performances: The Thirty Meter Telescope and Settler State Policing of Kānaka Maoli.” https://abolitionjournal.org/precarious-performances/.

Maile, David Uahikeaikaleiʻohu. 2019 “Gifts of Sovereignty: Settler Colonial Capitalism and the Kanaka ʻŌiwi Politics of Ea.”

Kahanamoku, Sara S., Rosanna Alegado, Katie Leimomi Kamelamela, Aurora Kagawa-Viviani, Edward Halealoha Ayau, Davianna Pomaika’i McGregor, Tracy Ku’ulei Higashi Kanahele, et al.. 2020. “National Academy of Science Astro2020 Decadal Review: Maunakea Perspectives”. https://doi.org/10.6084/m9.figshare.c.4805619.

Salazar, Joseph Anthony. 2014 “Multicultural settler colonialism and indigenous struggle in Hawaiʻi: the politics of astronomy on Mauna a Wākea.” PhD diss., Honolulu: University of Hawaii at Manoa.

Referências

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Deondre Smiles, Ph.D. é um pós-doutorando na Universidade do Estado de Ohio. Cidadão Ojibwe de Leech Lake Band sua pesquisa se situa na intersecção de geografias indígenas críticas e ecologia política, centrado no argumento de que a proteção de restos mortais, cemitérios tribais e ambientes mais-que-humanos representam uma forma efetiva de resistência cotidiana contra o estado colonial.

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Pedro Silva

Brasileiro. Pesquisador em RI. Curioso incurável. Traduzo uns textos aí.